sexta-feira, 8 de março de 2013

O SALTO







Adriana Mangabeira

Não se pode fazer uma nova caminhada sem sair da esteira.
De que adiantam flores de um lindo parque, num caminho de terra infinito iluminado por anjos, se a escolha for permanecer numa sala fria, numa esteira cinza?
De que adiantam cores radiantes para uma visão em preto e branco?
De que adiantam muitas vitórias se a leitura for de fracasso, se não houver acolhimento ao cinza e nem suportá-lo como único companheiro?
Um jarro de flores é trazido gentilmente até a esteira, mas é preciso descer dela para tocar, sentir aroma e textura...
Descer da esteira pode ser perigoso, um tombo pode acontecer... Às vezes escolhemos esperar só mais um pouco, um pouco mais pra descer.
Mas o que angustia não é não poder tocar as flores; é não saber a maneira de descer sem cair e pensar se um dia saberemos; é não aceitar o risco de cair; é não ver como provável a possibilidade que já se sabe como descer com segurança da calma e da fé, suavemente, de forma integrada ao jardim, sem quedas... Mas com um salto!
E se o salto não vier como escolha para um dos sonhos, nenhum dos outros sonhos poderá ser realizado. A esteira rola. E volta.
Todas as flores que nos esperam, nos espelham.
E hoje todo o meu desejo é pela adrenalina e pela alegria, pela vontade de saltar e voar, mesmo sabendo que serão poucos segundos até que os pés voltem ao chão. Mas tudo que há na terra são flores...

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