terça-feira, 26 de março de 2013

Mitos



Por que mitos? Por que deveríamos importar nos com os mitos? O que eles têm
a ver com minha vida?


 Minha primeira resposta seria: “Vá em frente, viva a sua vida, é uma boa
vida – você não precisa de mitologia”. Não acredito que se possa ter interesse por um
assunto só porque alguém diz que isso é importante. Acredito em ser capturado pelo
assunto, de uma maneira ou de outra. Mas você poderá descobrir que, com uma introdução
apropriada, o mito é capaz de capturá-lo. E então, o que ele poderá fazer por você, caso o
capture de fato?
Um de nossos problemas, hoje em dia, é que não estamos familiarizados com a literatura do
espírito. Estamos interessados nas notícias do dia e nos problemas do momento.
Antigamente, o campus de uma universidade era uma espécie de área hermeticamente
fechada, onde as notícias do dia não se chocavam com a atenção que você dedicava à vida
interior, nem com a magnífica herança humana que recebemos de nossa grande tradição –
Platão, Confúcio, o Buda, Goethe e outros, que falam dos valores eternos, que têm a ver
com o centro de nossas vidas. Quando um dia você ficar velho e, tendo as necessidades
imediatas todas atendidas, então se voltar para a vida interior, aí bem, se você não souber
onde está ou o que é esse centro, você vai sofrer.
As literaturas grega e latina e a Bíblia costumavam fazer parte da educação de toda gente.
Tendo sido suprimidas, toda uma tradição de informação mitológica do Ocidente se perdeu.

Muitas histórias se conservavam, de hábito, na mente das pessoas. Quando a história está
em sua mente, você percebe sua relevância para com aquilo que esteja acontecendo em sua
vida. Isso dá perspectiva ao que lhe está acontecendo. Com a perda disso, perdemos
efetivamente algo, porque não possuímos nada semelhante para pôr no lugar. Esses bocados
de informação, provenientes dos tempos antigos, que têm a ver com os temas que sempre
deram sustentação à vida humana, que construíram civilizações e enformaram religiões
através dos séculos, têm a ver com os profundos problemas interiores, com os profundos
mistérios, com os profundos limiares da travessia, e se você não souber o que dizem os
sinais ao longo do caminho, terá de produzi-los por sua conta. Mas assim que for apanhado
pelo assunto, haverá um tal senso de informação, de uma ou outra dessas tradições, de uma
espécie tão profunda, tão rica e vivificadora, que você não quererá abrir mão dele.
 
livro O poder do Mito( Joseph Campbell)

Nenhum comentário:

Postar um comentário