Adriana Mangabeira
Não se pode fazer uma nova caminhada sem sair da esteira.
De que adiantam flores de um lindo parque, num caminho de terra infinito iluminado por anjos, se a escolha for permanecer numa sala fria, numa esteira cinza?
De que adiantam cores radiantes para uma visão em preto e branco?
De que adiantam muitas vitórias se a leitura for de fracasso, se não houver acolhimento ao cinza e nem suportá-lo como único companheiro?
Um jarro de flores é trazido gentilmente até a esteira, mas é preciso descer dela para tocar, sentir aroma e textura...
Descer da esteira pode ser perigoso, um tombo pode acontecer... Às vezes escolhemos esperar só mais um pouco, um pouco mais pra descer.
Mas o que angustia não é não poder tocar as flores; é não saber a maneira de descer sem cair e pensar se um dia saberemos; é não aceitar o risco de cair; é não ver como provável a possibilidade que já se sabe como descer com segurança da calma e da fé, suavemente, de forma integrada ao jardim, sem quedas... Mas com um salto!
E se o salto não vier como escolha para um dos sonhos, nenhum dos outros sonhos poderá ser realizado. A esteira rola. E volta.
Todas as flores que nos esperam, nos espelham.
E hoje todo o meu desejo é pela adrenalina e pela alegria, pela vontade de saltar e voar, mesmo sabendo que serão poucos segundos até que os pés voltem ao chão. Mas tudo que há na terra são flores...
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